Cada país tem sua antropofagia e outros links

Parece que os habitantes dos EUA têm um talento especial pra perceber e isolar o componente estético das tradições de outros países.

Cada país tem sua antropofagia e outros links
A cerimônia do chá do artista Tom Sachs, de Nova Iorque.

Cada país tem seu estilo de antropofagia, não é? Acompanhe o raciocínio.

Parece que os habitantes dos EUA têm um talento especial pra perceber e isolar o componente estético das tradições de outros países.

Exemplos: transformar a Yoga em prática de exercício pra bem-estar, depois em spa. A Ayurveda em dieta, depois mercado de suplementos. E a cerimônia do chá em um ritual artístico.

Assista ao vídeo da versão do escultor Tom Sachs pra cerimônia do chá. Em vez de transformá-la num negócio, o escultor novaiorquino transporta a tradição japonesa pra um ambiente cultural inusitado: o dos trabalhadores de construção civil, marcenaria, etc. Os chamados blue-collar workers. Em vez de instrumentos artesanais de bambu, usa-se compensado e power tools.

Na verdade, essa ideia de antropofagismo dos EUA me veio à mente ao reler esse texto, de Chogyam Trungpa Rinpoche:

Existem estilos definitivos de tédio. A tradição Zen japonesa cria um estilo definido de tédio em seus monastérios. Sentar, cozinhar, comer. Sente-se em zazen, faça sua meditação enquanto anda e por aí vai. Mas pro noviço dos EUA que vai ao Japão ou pratica tradições japonesas aqui mesmo, a mensagem do tédio não é comunicada adequadamente. Em vez disso, a prática vira uma apreciação militante da rigidez, ou uma apreciação estética da simplicidade, em vez da experiência de estar realmente entediado – o que é estranho. Na verdade (as práticas) não foram desenvolvidas desse jeito.

Nos EUA, parece um tanto difícil deixar de converter as tradições de outros países em negócios, estéticas ou ideologias. Falta uma certa cultura de contemplação – pelo menos nas tradições não indígenas. É sempre preciso agir, fazer algo.

Claro: provavelmente, estou estereotipando os estadunidenses. Mas, não sei. Só estou falando.


The Believers

Nova série na Netflix, focada em golpes e esquemas financeiros. Dessa vez, um grupo de jovens usa um templo budista como cobertura pra desviar dinheiro. Aí está um bom alerta pra pessoas trabalhando em departamentos financeiros de instituições budistas sérias.

Criado pela Yakusa

Takeshi Kitano é um dos meus cineastas japoneses preferidos. Pena que seja tão fixado no assunto máfia japonesa. Mas ele dá um jeito de ir além da violência. É o caso do filme Kikujiro, clássico de 1999. Nele, uma criança foge de casa e acaba protegida por um gangster. É uma mistura de road movie, comédia e filme de máfia. Contém até alguns bons níveis de fofice.


YouTube mais lento no Firefox?

Durante essa semana, a performance do YouTube degradou bastante no Firefox pra mim. Desde o ano passado, há evidências de que isso seja intencional, especialmente se você usa bloqueadores de anúncios e de tecnologias coletoras de dados. Ocasionalmente, até surge um pop-up incitando a usar o Chrome.

Sou assinante do YouTube Premium. Ou seja, pago pra evitar anúncios. Então, em tese, deveria poder usar qualquer navegador. Mas, ok, se não há vantagens e liberdades ao pagar, vou cancelar o plano.

Uma sugestão é usar o navegador do DucKDucKGo. Ele é, basicamente, o Chrome, só que sem as ferramentas de vigilância do Google. E você pode, inclusive, optar por substituir o tocador de vídeos do YouTube pelo nativo do navegador.

Uma alternativa mais avançada é usar o Invidious, que traz uma interface simplificada pro YouTube, eliminando todo o sistema de recomendações do site.

Se você é criador de conteúdo, já desistiu da gameficação do YouTube, e quer evitar mais essa camada de incômodo entre você e seu público, vale tentar subir vídeos no PeerTube. A plataforma faz parte do fediverso, assim como Mastodon. E é possível embedar seu conteúdo em newsletters ou no seu próprio site, normalmente.

Update: a lentidão do Firefox também está acontecendo em outros sites do Google.

Gerenciador de Hobby?

De vez em quando, a Mozilla surge com um aplicativo que parece meio deslocado do resto da produção da empresa. Desta vez, chama-se DidThis. É uma espécie de diário, como o excelente DayOne. Mas foi divulgado como um gerenciador de hobbies. A versão desktop (via navegador) já está disponível e é gratuita. A mobile, por enquanto, funciona só no iPhone e está restrita a usuários dos EUA e Canada.

Google Docs, só que não

Se você está procurando uma alternativa ao Google Docs, vale a pena espiar o ButterDocs. Especialmente, se você precisa de ferramentas de colaboração e aprovação de textos. O Etherpad também é uma boa opção open source.

Adobe, só que não

Se o seu problema é com a Adobe, segue uma lista atualizada frequentemente de boas alternativas aos programas da empresa.


Multitasking é fria

Alguns estudos indicam que multitasking é uma técnica ineficiente e ainda energeticamente cara pro cérebro. Mas como ele compensa o esforço? E como isso muda ao longo do tempo?

Emoções ocultas

Num vídeo curto (2:49), o professor budista Dzogchen Ponlop Rinpoche explica como funcionam as emoções que ficam ocultas no fluxo mental, influenciando outras, que acreditamos ser mais evidentes.

A outra IA

Esther Perel fala sobre Intimidade Artificial, no SXSW. Em paralelo, conta a história de um programador que escreveu um bot baseado no conteúdo que a psicóloga publica regularmente. A ideia era do sujeito era usar a IA Perel pra se reconciliar com a ex-namorada.