Previsões improváveis

Seria engraçado se essas coisas acontecessem em 2024.

Previsões improváveis

Nostradamus, previsivelmente, a imagem deste post.

Se eu fosse um profissional sério, começaria o ano com previsões previsíveis pra 2024. Mas como sou apenas mais um doido de internet, posso me dar ao luxo de publicar algumas hipóteses furadas. Pelo menos, não vou ter que admitir que errei, no fim do ano. E segue o baile.

O surgimento do pós-entretenimento

Depois de tantas décadas consumindo entretenimento industrial, com produção em larga escala e indução de consumo incessante, voltaremos a valorizar algumas coisas, como:

  1. Produzir com as próprias mãos, pelo prazer de fazer. Nada a ver com publicar ou buscar qualquer tipo de validação. O prazer é mecânico, sensorial, até certo ponto, individualista.
  2. A valorização da sazonalidade. Estou pensando em festivais como o indiano Kumba Mella, que acontece só quando certos planetas se alinham, de acordo com calendários específicos. As pessoas se juntariam pra celebrar eventos raros. E que exigem um período grande de preparação, física e mental. Ou seja: degustar a antecipação, em vez de buscar satisfação contínua, sem “fricções”.
  3. A volta do prazer no ascetismo e na disciplina. Conectado ao item anterior. Hoje, parece um absurdo, mas a disciplina já foi moda durante milênios, em muitas civilizações. Talvez parte do povo fitness tenha alguma ideia de como isso funciona.
  4. Prazer da não-acumulação. Redescoberta de rituais sociais que subvertem a ideia de posse e de acumulação de bens. Nada a ver com dar presentes no natal. A coisa seria mais ou menos como o Potlatch e o Kula, quando algumas tribos faziam rituais específicos de doar seus próprios bens aos outros.

Esses seriam resgates de práticas de prazer individuais e coletivos que perdemos ao longo da modernidade, dita racional. Todos funcionando fora da lógica do entretenimento.

É só pra lembrar que o mundo já funcionou de outras formas. Não nascemos capitalistas e nerds.

O prazer da não-confissão

Após chegarmos a níveis extremos de definição e defesa de identidades (sexuais, políticas, etc.), pode haver um movimento contrário: o da recusa a se enquadrar em categorias. Um desejo de evitar, ao máximo, confessar em público seus desejos, gostos e atividades. O prazer de não se definir. O prazer do segredo. Criptografia identitária.

A volta da publicação analógica e física

Valorização de espetáculos, street art, revistas, fanzines, experiências físicas e temporárias, que não fiquem gravadas em ambientes midiáticos.

  • Melhor até que pouca gente saiba do que está acontecendo, que não haja estatísticas ou comparações. Nem câmeras e Instagram. Um pouco como era no começo das raves.
  • Mídias de reciclagem: publicar em roupas velhas, usando fragmentos de embalagens, etc. Uma comunicação deliciosamente cheia de manchas de uso. Essa, alguns artistas já até fazem atualmente. Mas, em vez ser considerada uma prática artística, seria jornalismo, ensaísmo, opinião. Seria engraçado, no mínimo.

Enfim, claro que nada disso deve acontecer. Mas, vai saber. Vai saber! Não duvido de mais nada. Se colonizar Marte parece algo factível, por que não escrever em papiros de novo?


As novas ideologias do Vale do Silício

Um dos maiores problemas da nova geração de crenças do Vale do Silício (Aceleracionismo e Altruísmo Eficaz, etc.) é ter assistido demais a sci fi pop e tentar reproduzir certos filmes no nosso planeta. De qualquer forma, neste episódio de Tech Won’t Save Us, há uma boa introdução às crenças que estão guiando empresas como OpenAI, X, e muitas outras.

Música

Em 2023, a saxofonista Marike Van Dijik lançou um álbum diverso e intenso chamado Stranded. Destaque pras faixas “Changes” e “Island Time”, que lembra “Everything In Its Right Place“, do Radiohead. Descobri o disco na lista de melhores do (sobrevivente) Bandcamp.