

Descubra mais de Texto Sobre Tela
Alô. Como você está? Eu estou sambando entre eventos presenciais e no Zoom. Esta é a última newsletter do ano. Vou pausar toda minha produção de conteúdo até meados de janeiro. Antes, seguem as compilâncias dessa semana.
Resoluções de fim de ano
1920 x 1080. Algum espaço, mas com humildade.
Cultura
Como escrever quando a coisa não está funcionando, por Cory Doctorow. Acho meio exagerado e messiânico, mas ajuda.
Analisando o possível significado histórico das imagens geradas via inteligência artificial, L.M. Sacasas faz um debate mais filosófico, chegando até a Hannah Arendt. Ainda estou esperando os antropólogos entrarem na conversa, mostrando como outras culturas integram a arte nas tarefas cotidianas, desviando das ideias de autoria e mercado.
A blogueira púcara búlgara veterana, Maria Popova.
Batedores de atenção
Pelo menos na minha bolha de produtores de conteúdo, há um consenso: todos querem que 2023 seja um ano tedioso, se comparado com o ritmo anfetamínico dos últimos quatro.
Ahã.
Passado o recesso de fim e ano, é provável que continuaremos prestando atenção nos mesmos personagens, seguindo a mesma dieta de (des)informação, visitando os mesmos sites, usando aqueles aplicativos e sonhando com a chegada do Grande Dia do Alívio. Dessa vez vai: fazer as mesmas coisas causará resultados diferentes.
Sempre pode acontecer que o AWS caia mundialmente e sejamos forçados a mudar de rotina. (AWS significa Amazon Web Services, infra-estrutura por trás de muitos serviços que usamos.) Mas é mais prático investir em novos hábitos.
Por exemplo, em vez de gastar praticamente todo tempo criticando o que há de errado na tecnologia, buscar mais alternativas. Um pouco como Mark Hurst, do Techtonic, tenta fazer, buscando pessoas e ideias inspiradoras.
Especialmente, o plano é evitar ser atacado pelos batedores de atenção. Quer dizer, os trombadinhas midiáticos. Aqueles que aproveitam nossos espaços cognitivos confusos para sugar nosso tempo e energia.
Não me refiro aos grupos de extrema-direita no WhatsApp / Telegram — esses são fáceis de identificar, são o equivalente aos assaltos. A ideia, aqui, é prevenir o furto, as ações, digamos, sub-reptícias. Isso em três níveis:
Individual — evitar alimentar gente que manipula indignação, que cria factoides diários para manter os holofotes em si.
Institucional — passar longe da imprensa caça-cliques, dos trending topics, das ondas de piadas inúteis da semana.
Coletivo — criar anticorpos para a boa-intenção misturada com vício mental ou preguiça. Ou seja, essa mania de reclamar rápida, compulsiva e superficialmente nas redes sociais.
Pelo menos para mim, o consumo constante de desabafo crônico leva ao esgotamento mental. É por isso que tenho admirado cada vez mais trabalhos como o de Maria Popova, do The Marginalian. O mundo pode acabar em tweets de oligarcas e ela permanecerá, firme e forte, analisando escritores e filósofos. Não deixa de ser um comentário sobre o presente. Mas bem longe dos trombadismo cognitivo.
Avanti Popova! Evviva il sanidade e la libertà.
Ferramentas
Super agregador de conteúdo
Reader passou para public beta. É um programa que combina Pocket, leitor de RSS, agregador de newsletters e outras funcionalidades mais geeks (como sublinhar textos, gerenciar comentários feitos em outras plataformas, etc.). Usei a versão alfa algumas vezes. Achei bem legal, mas ainda não me engajei de verdade. Mais detalhes no post de lançamento.
Mais um sistema de blogs
BlogStatic é um sistema de blogs parecido com o Ghost. No-code, minimalista, com tipografia elegante, tradução de templates e até um sistema para enviar newsletters. Custa U$ 19 por ano. Comparado com o preço médio das hospedagens compartilhadas no Brasil (R$ 13 mensais), parece uma boa alternativa. Tomara que sobreviva e não tente virar rede social.
Busca sem vigilância
Neeva é uma ferramenta de buscas focada em privacidade, criada por ex-funcionários do Google.
Sobre experiência de usuário
Excelente vídeo sobre o KDE, tradicional e flexível ambiente gráfico para Linux. A tese do apresentador é interessante: se você cria um produto super poderoso e cheio de recursos, mas não sabe ensinar como usá-los, perde seu tempo e afasta o usuário (ou seja, faz marketing negativo). É por isso que muita gente, como eu, usa o supostamente minimalista Gnome.
Agora que a inteligência artificial está na moda, os designers de interface poderiam criar assistentes contínuos de experiência de usuário: o computador perceberia seus hábitos de trabalho e sugeriria métodos para facilitá-lo (sem cartuns de clipes voando pela tela, por favor). Os projetos open-source também financiariam conteúdo educacional, especialmente no YouTube.
Muita gente adota o minimalismo porque fica assustada com opções, nuances e contextos (isso vale até mesmo para a política). É compreensível. Mas também limitante.
Então, como oferecer alternativas sem soar burocrático? Minha sugestão: gradual e continuamente. Ir além do conceito de onboarding (aquela ajuda que aparece na primeira vez que você usa o aplicativo). Mudar para assistência contextual perene.
Música
Spilly Cave é um sujeito que faz um indie rock todo torto, mas com uma excelente sensibilidade pop. Destaque para as guitarras, que sempre trazem algum timbre interessante. Às vezes, aquele chorus com reverb que lembra o pop-rock brasileiro dos anos 80. Em outros momentos, parece um Television, só que de boas, largadão no sofá.
Atropelado pela alegria no metrô
Neste fim de semana, participei de algumas atividades de Yongey Mingyur Rinpoche. Estou espantado com a organização e dedicação do time de bastidores. Lembro-me de que quase perdi a oportunidade de conhecê-lo pessoalmente, no começo dos anos 2000.
Eu morava na Av. Paulista. Rinpoche estava agendado para ensinar em algum lugar na Liberdade. Para chegar lá, eu e uma ex-namorada planejávamos pegar o metrô. Na estação, demos de cara com um enorme fluxo, quase um Tsunami de gente saindo para participar da Parada Gay.
Imagine a cena: duas pessoas tentando atravessar em meio a uma multidão de todos os estilos: trans super montadas, cosplay de Village People, terno, gravata e bermuda florida, etc. Era uma celebração, um carnaval. Parecia extremamente divertido.
No meio da muvuca, a ex-namorada resolveu ficar na Parada Gay. E tentou me convencer a fazer o mesmo. Puxava-me, dizia que não queria perder a festa, etc. E eu, resoluto, tentava me esgueirar no meio do povo até a catraca. Se me lembro direito, a ex, afinal, foi ver o Rinpoche comigo, mas reclamando horrores.
É bastante comum que haja um “obstáculo” antes de participar de eventos budistas. Todo praticante sabe disso. Mas, às vezes, eles são hilários. E, se você souber interpretá-los, bem informativos.
Então é isso: boas festas para você.
Está na hora de já ir, já ir embora. E até 2023.
Abraço,
Eduf