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Sair do armário é um processo que nunca acaba. A expressão ficou associada a assumir uma determinada identidade sexual, mas pode ser um processo bem mais amplo.
Por um lado, significa dar-se permissão para fazer ou ser algo, para encarar de vez um desejo ou uma aversão. Por outro, pode ser limitante e grudar outro rótulo na testa, limitando a vida para encaixá-la neste ou naquele viés.
Muitas vezes, consciente e/ou inconscientemente, gastamos uma vida inteira pulando de um armário para outro. E ainda tentamos convencer as pessoas a nos seguir.
Mas aí é que está a beleza trágica do nosso bug natural (ou sanidade inata): onde quer que haja um bunker, cedo ou tarde, haverá a claustrofobia, o desejo de transcender.
Precisamos trabalhar duro, extremamente duro, para permanecer num armário. Especialmente quando escolhemos entrar ali. Temos que limpar as incoerências, adornar as prateleiras, tirar o mofo, ignorar o tédio, tentar não olhar para os lados, etc.
A migração entre armários é um processo contínuo. Não é algo que simplesmente se supere. Não é como pegar um visto, passar pela fronteira e fim de jornada, “agora estou livre”.
Pior: muitos armários são totalmente ilusórios. Não estamos realmente presos, apenas superdimensionando, enxergando mal, deduzindo a opinião alheia. Então, ao migrar, encontramos um ambiente semelhante. Afinal, o armário é feito de espelhos.
Talvez meu mundo ideal fosse feito de prateleiras abertas. Mas a bagunça sempre estará à espreita. É mais fácil falar do que viver.
Tech
700 mil litros
Quanta água limpa é usada para treinar o ChatGPT? Aí está algo não intuitivo.
Evolução da cultura nerd
Não é de agora que a cultura nerd (simbolizada por Marvel, DC e Disney) dá sinais de cansaço. Aposto que o caminho apontado pelo Meow Wolf é o próximo passo desse tipo de entretenimento. Parece algo mais consciente e crítico da cultura do consumo, o que é interessante. Mas prefiro algo mais orgânico e inacabado.
Música
Depois do Mudhoney, é a vez de King Krule aderir à tendência dos clipes com cachorros.
Devillish Dear é uma banda brasileira shoegaze. A música a seguir lembra muito My Bloody Valentine. Esse riff não sai da minha cabeça faz uns dias.
Contém nerdismos de vocal
No coração do nu-metal vive George Michael. No vídeo a seguir, Chino Moreno (Deftones) presta sua homenagem ao creme da strorytelling pop dos anos 80.
Vocal geeks, notem que Moreno troca parte da intensidade da performance original (belting) por um vocal fry meio quebrado, que produz uma nova riqueza harmônica.
Tente fazer as transições de registro (voz de peito para voz de cabeça) que Moreno faz nessa música. Onde George Michael usa falsete, Chino usa voz mista, com um vibrato sutil e até um soquinho de nota no final, só para mostrar quem manda.
Definitivamente, é um karaokê profissa.
Cornelius
Não sei porque, nessa semana me deu saudade do produtor japonês Cornelius. Especificamente de Free Fall e Count Five Or Six.
É isso por hoje. Obrigado por ler. Obrigado a todos os apoiadores.
Até a próxima,
Eduf