Alô. Como você está? Aqui, como sempre, treinando vocais guturais com os bugios, testando a inteligência artificial do momento, ChatGPT, e treinando minha mente para não perder tempo demais com essas coisas. Ainda separei um tempo para compilar links para vocês. A seguir.

Justiceiro sexual

Ah, o cinema japonês. Talvez, seja o meu preferido, dada a diversidade de estranhezas produzidas ao longo dos anos. Mas, se tivesse assistido a Sexual Drive nos anos 90, eu teria gostado mais do filme quase sacana de Kôta Yoshida.

Dividido em 3 histórias, brinca com a associação entre prazer sexual e gastronômico. Em especial no seu aspecto mais gosmento, cheio de pequenos ruídos, secreções e compulsões.

Mas não se preocupe. Não existe sequer uma cena de sexo no filme: tudo está implícito no ato de comer, que se torna bizarro, já que é filtrado por alucinações produzidas pelo excesso (ou ausência) de libido dos personagens.

Ou seja, Sexual Drive é bem um daqueles filmes indies dos anos 90: classe média japonesa asséptica é atropelada por adultério, masoquismo e poliamor. O filme ter saído em 2021 indica que, ainda que se fale muito sobre sexo hoje em dia, o gênero cinematográfico “armário transbordando” não ficou exatamente obsoleto.

Juntando as 3 histórias do filme, está uma espécie de super-herói — ou terrorista — sexual: Kurita (foto abaixo), aquele que dá um jeito de revelar os desejos inconfessáveis dos outros personagens e lhes causar epifanias.

Imagine a situação: sua campainha toca e aparece um sujeito parcialmente paralisado, que diz ter sofrido um derrame. E que é amante da sua esposa. Pior: começa a dar detalhes sórdidos da relação que tem com ela, se empolgando gradualmente. O marido não consegue imaginar que sua esposa o trairia com alguém... assim.

Na segunda parte do filme, Kurita surge como um masoquista que se deixa atropelar só para revelar o sadismo de uma ex-colega de escola. Na terceira, é um chantagista camarada, que quer aproximar um casal desconectado e corrigir um caso de masculinidade tóxica.

Sexual Drive não é supergenial, porém interessante. Uma direção de arte um pouco mais arriscada e uns atores um pouco mais convincentes cairiam bem. O tom meio anos 90 também incomoda um pouco. Mas o filme vale por sugerir alguma reflexão. E algum cardápio, também.


Retrospectiva das coisas que ainda não aconteceram

Não aguento mais notícia ruim. Mas também não tive tempo de compilar as melhores coisas e ideias de 2022. Então, inventei algumas.

  • 🤖 IA assume o controle das redes sociais corporativas: os programas postam, consomem informações, arranjam brigas, se apegam a taxas de crescimento, fazem fortunas para oligarcas, etc. Humanos vão para a praia e tomam mate com limão.
  • ☕🤪 Invenção do café psicodélico. Servido em máquinas nos escritórios, sem (oops) “aviso prévio”. Em vez de deixar as pessoas mais aceleradas e ansiosas para o trabalho, causaria um efeito calmante, com algumas alucinações leves. Reuniões em pé se transformariam em cirandas e gente se beijando, como se estivéssemos nos anos 1960.
  • Copa do Mundo foi democratizada. A cada 4 anos, durante alguns dias, as pessoas poderiam escolher seus próprios dramas. Se o seu negócio é torcer em voz alta pelo prêmio Jabuti, beleza. Todo mundo aceitaria.
  • 👻 Faria Lima volta a ser uma pessoa. Hoje é uma avenida em SP. E também uma entidade fantasmagórica muito sensível, que reage às mudanças nos governos. Mas, como um dia já foi um humano, de repente, voltando ao reino dos vivos, teria alguma compostura.
  • 🫶 Bots psicólogos no WhatsApp. Seriam espalhados em grupos golpistas e de realidade paralela no WhatsApp. Secreta e sutilmente, induziriam ao autoconhecimento e ao tratamento da saúde mental. Passariam despercebidos e viralizariam antídotos aos discursos de ódio. Incitariam as pessoas a se manifestarem criando hortas ou projetos sociais.

Livros

Dois novos de Phakchok Rinpoche

Enquanto aguardamos o lançamento do novo livro do professor budista Phakchok Rinpoche, Awakening Dignity (marcado para 20/12), a editora Makara lançou a tradução em português de Um Vislumbre do Dharma de Buda, no estilo perguntas e respostas.

O Mito do Normal

É provável que alguns leitores da newsletter conheçam o médico húngaro Gabor Maté. Ele é uma referência popular em estudos sobre trauma e vício. Seus trabalhos mais conhecidos são When The Body Says No e o documentário The Wisdom of Trauma.

Gosto de seus livros, mas ainda mais das entrevistas que ele dá quando vai divulgá-los. Na maciota, Maté sempre dá um jeito de levar os jornalistas para um saudável estado de fragilidade e honestidade.

Pois vem aí mais uma sequência de conversas, já que o autor está divulgando The Myth of Normal - Trauma, Illness, & Healing in a Toxic Culture, escrito com seu filho, Daniel. A primeira dessa leva que ouvi foi com Sean Illing.


Tech


Música

  • The Last Chance To Dance Trance (Perhaps), compilação de improvisos do trio de jazz groove Medeski, Martin & Wood, acaba de fazer 23 anos. E daí? Uai, foi um dos álbuns que mais ouvi na vida. É uma desculpa para revisitá-lo. Lembrando que a banda está na ativa até hoje.
  • Hermits Groove, do Wax Machine, foi indicado como um dos melhores álbuns do ano no Bandcamp. Às vezes parece uma mistura do começo de carreira do Tame Impala com Mutantes. Mas também flerta muito com a Tropicália.

Então é isso por hoje. Até quarta.

Eduf

Retrospectiva fictícia

Cinema japonês, inteligência artificial e outros cliques