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Fila para sacar dinheiro do Silicon Valley Bank, após o anúncio do colapso do banco.
As placas tectônicas da indústria da tecnologia estão se movendo. Além das sucessivas demissões em massa dos últimos meses, um choque ainda maior acaba de acontecer. Em apenas dois dias, um dos bancos mais importantes da área, o Silicon Valley Bank, entrou em colapso.
De repente, alguns dos principais investidores norte-americanos não conseguem mais mover dinheiro para suas start-ups. Cartões de crédito (até de empresas como a Vox Media) simplesmente pararam de funcionar. E o pânico se espalha rapidamente entre os clientes de outros bancos. Muitos fogem para instituições mais monolíticas como o J.P. Morgan.
Sim, eu sei que esse é um assunto chato e que você não assinou a newsletter da Bloomberg.
Mas eu queria chamar atenção para uma coisa: como nosso sistema de “sobrevivência tecnológica” é frágil. É incrível que confiemos em algo tão instável.
Banco colapsa, muda o CEO e derruba o aplicativo, aparece o ChatGPT e muda as regras, vazam dados, neonazis são desmascarados, etc., etc. Ainda assim, continuamos entusiasmados com novos aplicativos, seguindo modas, criando perfis e cadastrando nossos dados bancários. É uma sede insaciável pela próxima moda, pela diversão tecnológica.
Após décadas de convivência com as instabilidades da “digitalidade”, o hype ainda não passou. Ainda não desenvolvemos aquele saudável desinteresse que permeia outras áreas. Por exemplo, apenas um nicho é capaz de se obcecar com carros, geladeiras, canetas ou ferramentas de jardinagem. Já os fãs de tecnologia parecem bem mais ativos e… descuidados.
Imagine uma empresa de automotivos que distribuísse carros gratuitamente. Você poderia viajar até 50 mil km por mês, recebendo algumas propagandas e enviando dados da sua localização. Ou escolas baratas, que mudassem de instalações, métodos e visões ideológicas anualmente. Ou um hospital que simplesmente resolvesse fechar, sem muitas explicações. Você usaria esses serviços?
Na relação com as empresas de produtos digitais, toleramos coisas que seriam inaceitáveis em outras áreas. O que mostra que a digitalidade ainda não atingiu o status de mera ferramenta, como tantas outras que fazem parte do nosso cotidiano. É um universo à parte, que apenas começa a mostrar suas entranhas e ciclos.
Eu me pergunto o que seria necessário para “desfetichizar” os produtos digitais. Desvinculá-los da ideia de entretenimento e de estilo de vida? Uma ativa mudança de tom na cobertura jornalística (quem é que faria “5 recomendações de furadeiras mais legais”, por exemplo)?
Não sei.
Mas parece cada vez mais evidente que há duas forças transformadoras competindo agora no mundo digital: o colapso das infraestruturas (a “deshypezação”) e a manutenção do entusiasmo (por exemplo: discurso sobre a revolução da Inteligência Artificial). Se os bancos quebrarem, quero ver quem vai pagar a conta do ChatGPT.
Quebrando o banco
"Eu me pergunto o que seria necessário para “desfetichizar” os produtos digitais. "
Acho que esse processo já está correndo em larga escala. Acho que jornalistas, e principalmente jornalistas de tecnologia, são os que ainda estão alimentando o hype, e vivendo disso, enquanto a maior parte do mundo não está nem aí para cada modelo de celular que se lança. Acho que boa parte do mundo já convive com a tecnologia como ferramenta.
(Embora os recentes desenvolvimentos de IA, sim, caíram na boca do povo).
E bom, eu que tenho minha mãozinha em marcenaria e espaços maker volta e meio assisto vídeos com as 5 furadeiras mais legais.
Mas somos reféns dos bancos não somos? Fiquei pensando agora, do tempo que tive no Alabama, recebia em dólar e com uns esquemas o dinheiro ia para o Brasil na minha conta do Nubank…. Mas que garantia eu tenho que esse banco não vai dar pau? Mas como resolver isso também… comprando joias rs?