Hoje é domingo, certo? 😀


Neste fim de semana, estive nos bastidores de um evento para 85 pessoas. Mas não quaisquer pessoas. Eram praticantes dos 12 passos, dos Alcoólicos Anônimos. Foi uma excelente oportunidade de enxergar meus preconceitos. Não contra pessoas tentando reconstruir sua vida, claro. Mas contra a cultura do consumismo dos EUA.

É que a equipe de suporte teve uma quantidade gigantesca de trabalho. Horas e horas de cozinha e louça. Pilhas de lixo. Latas de sobras de comida. Plásticos, caixas e sacos de petiscos, bebidas consumidas pela metade e descartadas. Durante 3 dias, o movimento no refeitório raramente parava.

Meu primeiro impulso foi considerar aquelas pessoas como compulsivas, inquietas, vivendo numa sociedade igualmente compulsiva e ansiosa. E segui vagando mentalmente entre a aversão santa (“esses norte-americanos vão acabar com o planeta”) e a suposta compaixão paternalista (“eles estão dando o melhor de si”). Opiniões vagas, julgamentos e reducionismos.

Mas, felizmente, um certo treinamento de meditação sempre quica a bola de volta: “observe sua própria mente”. Quer dizer, que coisas você projeta nessa gente que não conhece, cujos esforços e trajetórias você ignora? O que essa situação mostra sobre seus próprios padrões e hábitos?

Na tradição budista, existe o “conceito” de Asuras, semideuses, deuses invejosos. Os semideuses são descritos como extremamente argumentativos, dispostos a brigas incessantes, achando defeito em tudo o tempo todo. Especialmente nos seus parceiros da classe “superior”, os deuses, que seriam melhores, mais bonitos, mais poderosos e (até certo ponto) mais livres de sofrimento.

A narrativa tradicional diz que os deuses sugam seus recursos do reino dos semideuses. Mais ou menos como a riqueza dos países desenvolvidos depende de múltiplas camadas de exploração dos países pobres para poder funcionar.

Naquele momento, lavando louça, esfregando o chão, acordando de madrugada para servir os norte-americanos, via surgir em mim parte dos padrões mentais atribuídos aos Asuras.

Não estou proclamando nada aqui, nem amor e nem ódio à cultura do consumismo. Apenas tentei usar a oportunidade para lidar com algo sobre o qual tenho um pouco mais de controle: minha própria mente.

E a compulsão que (re)descobri em mim é a do resmunguismo, da agressividade passiva, da gastura em fogo brando, que resolve nenhum problema do mundo. E que só me traz desconforto, só me faz miserável.

Então, posso dizer, com certeza, que eu também estava em reabilitação ali. No caminho de aprender a ser um “ativista” sem ser autodestrutivo e preconceituoso.


Tech

Trabalho duro para não ficar on-line. Mas sempre volto à cultura de Internet porque ela se move muito mais rapidamente do que a vida off-line. Nos melhores momentos, as pessoas são muito mais honestas na Internet. Um único meme pode capturar um sentimento que você precisaria de centenas de palavras para explicar. Estar on-line é o jeito mais certeiro de se sentir relevante, ainda que você se perca no processo. Às vezes, eu escorrego e caio no meu “cérebro-de-Twitter” — usando palavras e recitando fatos de tuítes que eu não entendo de verdade. E então eu tenho que deletar todas as minhas contas de novo.

Ginevra Davis, em “I Don’t Want to Be an Internet Pearson”, demonstrando, num parágrafo, esse momento de transição em que vivemos, no qual as pessoas estão hesitando entre a dependência e a aversão à Internet.


Música

O baixista Thundercat se junta ao Tame Impala, em “No More Lies”. Total Antena 1 FM soft-rock anos 80 vibes.

Rock de garagem um tanto White Stripeco. Tocado com um Fender VI e vocal feminino. Interessante.

Faixa nova de PJ Harvey. Os backing vocals de Ben Whishaw me lembraram um pouco da parceria entre Isobel Campbell e Mark Lanegan.

Vulf publica mais um vídeo meio bestinha, mas bem divertido: “I Can’t Party”. Entendo totalmente.


Hotel Califórnia

Nesta semana, fizemos uma grande triagem nos itens de decoração aqui do PPI, na Califórnia. Como recebemos muito material de doações, há uma infinidade de móveis guardados em um galpão. No meio deles, encontramos tapetes de gosto bem específico. Passando o aspirador de pó neles, notei que evocavam os gráficos das aberturas dos primeiros filmes de Pedro Almodóvar. Daí a ideia da abertura do vídeo acima. Assim nascem os vlogs. Pelo menos os meus.


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É isso por hoje. Obrigado por ler. Obrigado a todos os apoiadores.

Desculpem-me pelo atraso.

Até a próxima,
Eduf

Direto da reabilitação

Servindo participantes dos Alcoólicos Anônimos.