Dia desses me perguntaram porque estou quase sempre sozinho nos meus vlogs da Califórnia. Resposta simples: não quero expor as outras pessoas. Mas vale contar um pouco da configuração social do local em que estou vivendo, o Padmasambhava Peace Institute.
O PPI é um centro budista disfarçado de posto de bombeiros e centro de convenções rural, o Black Mountain. O staff aqui é formado de 5 pessoas, 1 mulher (nossa chefe) e 4 homens, todos entre 45 e 60 anos. Todos budistas.
Porém, uma das partes mais intrigantes é que o PPI está cadastrado no Workaway, uma plataforma global de trabalho voluntário. Assim, é comum aparecerem por aqui muitos estrangeiros, com cerca de 20 anos. O grupo atual tem 6 mulheres, 2 europeias, 3 norte-americanas e uma pessoa não-binária, neozelandesa. Todas cortam árvores e ajudam na manutenção.
Segundo os staffs da casa, muitos jovens aterrizam no PPI procurando uma maior conexão com a natureza, numa jornada de autoconhecimento. Ou num momento de indecisão. Boa parte está solteira ou recém-separada. Ficam um mês, repensam, e depois seguem seus rumos.
Até agora, a convivência do grupo tem sido extremamente respeitosa e cordial. Os integrantes criaram uma conexão instantânea. É interessante experimentar esse sabor agridoce das amizades com prazo de validade. Ainda que algumas possam continuar, claro – nunca se sabe.
Tudo isso para dizer que, inesperadamente, fui colocado numa situação que não estava buscando. E que nem vivi quando jovem adulto. Eu era (quer dizer, sou) extremamente focado, nunca sequer iria desejar passar uns meses sabáticos em outro país.
Só pensava em ter uma carreira de crítico cultural e escritor. Provavelmente, teria continuado assim, se não tivesse colidido de frente com os livros de Chogyam Trungpa Rinpoche, no começo dos anos 2000.
Com 47 anos, naturalmente, minha tendência é observar as situações dos outros integrantes do grupo. Tento não opinar e nem me passar pelo tiozinho “experiente” da casa. Até porque alguma humildade a pessoa precisa ter nessa vida, não é?
Então, vamos lá, de volta às “férias” no acampamento. Estou aberto para aprender.
O dia de evitar as notícias
Primeiro de abril é o meu Dia Oficial de Descansar da Internet. É que, nessa época de fake news constantes, já gasto energia demais tentando descobrir no que confiar. Haja whey protein e electrolitos.
Como nossas sensibilidades parecem estar cada vez mais descalibradas, muita gente não detecta as piadas do dia da mentira e reage como se estivesse com os glúteos em chama.
Sei lá, há tanta coisa para fazer nesse universo. A Internet já está para lá de cansativa.
Cinema
A vida de um poste na Islândia
Nest prova que é possível fazer cinema sobre qualquer assunto. Até mesmo sobre um poste. No caso, transformado numa casa da árvore por três crianças. Filmado ao longo de um ano, com apenas uma câmera fixa, o curta-metragem mostra a exuberância da passagem do tempo na Islândia. Para quem gosta dos quadrinhos de Chabouté.
O pai dos artistas
Inventando David Geffen (2012) é um documentário de dupla face. Por um lado, retrata a vida de um dos mais importantes empresários da música norte-americana. Por outro, funciona como uma narrativa saudosista de outra era da cultura pop. A do romantismo, dos artistas infantilizados, nutridos e “protegidos” por executivos truculentos e paternalistas.
Hoje, muitos criadores incorporaram técnicas de gente como David Geffen: manipulação da mídia, construção de audiências, gerenciamento estratégico de finanças, compra de favores, etc.
Ainda que alguns artistas (muito) mainstream consigam manter o estilo paternalista dos anos 70, agora, a coisa parece bem mais complexa. Na era dos robôs de redes sociais, da compra de dados, da inteligência artificial e das playlists, Geffen pode acabar até ressurgindo na forma de um simples aplicativo.
Tech
- Técnicas para detectar fotos falsas, feitas via Inteligência Artificial
- Não sou exatamente um fã do podcast Radio Novelo Apresenta. Mas gostei bastante desse episódio mostrando os bastidores da criação de fake news durante campanhas eleitorais. Foi produzido em parceria com a Redes Cordiais.
- Finalmente, terei saúde mental. Quazilla é um robô coach via WhatsApp, que usa ChatGPT. Se não funcionar, tente criar sua própria meditação guiada, também via IA. 🙄
- Se você ainda não leu, aqui vai o link para a história do nascimento do ChatGPT.
- Criar websites usando apenas fontes nativas do sistema operacional é algo meio 1995, certo? Errado. Em 2023, as opções melhoraram muito.
WTF?
- Não vi muita pesquisa nesse artigo, mas ele levanta um assunto interessante: consumidores estão se cansando de ostentar logotipos por aí.
Música
Acabei de conhecer Charlie Hunter, músico de jazz que toca baixo e guitarra simultaneamente. Ainda que suas linhas de baixo apenas deem para o gasto, vale pela ideia. Curiosidade: Hunter também foi aluno de Joe Satriani, que ensinou meio mundo, nos anos 80: de Kirk Hammet (Metallica) até Larry LaLonde (Primus) e Steve Vai.
Geese: Indie pop com cheiro de velho oeste.
- Tentativa de definir Alpha Test 4, da banda inglesa Henge: Game Boy pop ambientalista Capitão Planeta, com toques de sludge metal. O vídeo é bom para assistir com as crianças.
Ensaio sobre a tosqueira
Resolvi elaborar um pouco mais sobre o que acho sobre a tosquice e o improviso, em geral.
Então é isso por hoje. Boa semana para vocês e obrigado pela companhia.
Até a próxima.
Eduf
De volta ao acampamento
Quem diria, virei o tiozinho do grupo em férias.