

Descubra mais de Texto Sobre Tela
A essa altura, você já deve saber que estou passando uns meses na Califórnia – se não sabe, tenho publicado uns vlogs sobre o assunto.
O local onde moro hospeda eventos para ONGs e grupos alternativos. Nos últimos 10 dias, estamos dando suporte a um retiro de permacultura, liderado por Starhawk, uma das mais importantes professoras sobre o assunto. Termina hoje.
Tenho um particular interesse em observar pessoas vivendo em nichos e universos paralelos. Tanto que me formei em antropologia. Então, andei espiando o grupo de Starhawk de longe.
Nada de curioso aconteceu. Só um rapaz correndo semi-nu numa manhã pós-nevasca (deve ser do time do Wim Hoff). Mas o website de Starhawk sugere um tom meio religioso, quase de culto. Que, aliás, ao longo dos anos, está cada vez mais comum.
E, assim, finalmente, chegamos ao assunto de hoje. Agora começa a newsletter.
Parece que, ao criar e combater o discurso de que éramos política e intelectualmente “dominados” pela religião até o século 17, os Modernos acabaram por descobrir que a situação era bem mais complexa. Basicamente, cultos são nosso modo default, o padrão do sistema operacional.
Onde quer que você olhe, encontrará algo parecido: religiões, subculturas, estéticas, grupos políticos, sub-reddits, Discords, escritórios, tecnologias, etc., etc.
Esse desejo de se agrupar em torno de uma narrativa e fazer o possível para mantê-la coerente é tão poderoso que qualquer marca hoje em dia tenta virar uma espécie de culto. É até difícil de encontrar um trabalho que não exija algum grau de fanatismo.
Essa seria a morte do envolvimento casual, do diletantismo? A passagem da tal sociedade líquida para uma… hmm… viscosa? Todos disputando para nos manter grudados, como formigas presas no mel? Não sei. Mas, talvez valha a pena reler alguns textos de antropólogos e etnógrafos. Afinal, quando tudo é fanatismo, o que é religião?
Tech
O problema dos acumuladores digitais. Armazenamento é barato? Depende de que tipo de custos você está falando.
A web aberta está morrendo? Uma análise decentemente profunda.
O futuro dos chatbots via inteligência artificial está nas APIs.
Um post num blog é uma longa e complexa busca na Internet para encontrar gente fascinante. Texto interessante. Muda a perspectiva de criador para buscador.
Como é? Computadores feitos de cogumelos?
Ferramentas
MixPost é um gerenciador de social media estilo Buffer, Hootsuite, SocialPilot, mas que você pode instalar em seu próprio servidor.
Aliás, aqui está mais uma lista de ferramentas alternativas e open-source para programas proprietários que usamos no cotidiano.
Estou numa fase Van Neistat. Nesse vídeo, ele ensina como organizar o ambiente de trabalho.
Documentários
Encontros no fim do mundo
Não há coisa mais óbvia do que recomendar filmes de Werner Herzog, eu sei. Mas ainda não tinha visto essa incrível passagem do cineasta pela Antartida, lançada em 2008. É mais um exemplo da capacidade do cineasta de mudar (enfaticamente) de cenário e manter o tema: a investigação de pessoas obsessivas, extremamente comprometidas, que largam uma rotina “normal” para perseguir suas obsessões, arriscando a vida e a sanidade no processo.
Himalaia, terra de Mulheres
Geralmente, documentários sobre Tibet relatam a vida de monges e, no máximo, das monjas. Mas como é a vida das mulheres leigas, fazendeiras e administradoras dos Himalaias? A documentarista Marianne Chaud responde.
Música: pesando a mão
Não consigo ouvir heavy metal moderno. Mas, graças à Geração Z, Deftones, shoegaze e metal experimental voltaram aos holofotes. Então, acabei esbarrando em duas bandas inglesas interessantes:
Love Is Noise
Mistura Deftones com Angelo Badalamenti. Não tem a mínima pressa de chegar aos breakdowns e gritarias. O clima é etéreo e arrastado. Visualmente, está mais para Flaming Lips. As letras são aquela coisa de “gerenciamento do romantismo”. Detalhe engraçado: a dupla foi batizada a partir de uma música do The Verve.
Sleep Token
Desde o Kiss, o clichê das bandas mascaradas persegue o metal. Sleep Token mantém a tradição, acrescentando um tom de magia negra pop de videogame. A banda está hypada e parece que cruzará os limites do nicho.
E o som? Hmm. Tem tudo o que geralmente me irrita: vocais super processados, berros agudos, reverb em todos os instrumentos e bateria robótica que tenta acompanhar as guitarras o tempo todo. No geral, soa como se o Meshuggah tivesse um filho com o Tool depois de transar via computador.
Porém, há algo do ethos do funk metal na coisa toda. Digo, do interesse de usar soul e jazz na sonoridade. Por exemplo, o atual hit da banda, “The Summoning” (18 milhões de plays no Spotify), termina com uma passagem que poderia estar num disco de R&B contemporâneo. De alguma forma, a banda é um Faith No More estilo 2023.
O que realmente me fez ouvir Sleep Token foi “Aqua Regia”, que nada tem a ver com metal. A faixa deixa claro que os integrantes da banda sabem criar (ou pelo menos citar) progressões melódicas jazzísticas. Talvez eu continue espiando a banda. Mas de longe.
Então é isso que temos para hoje. O post está aberto para todos os assinantes, como uma compensação pelos dias em que não consegui publicar. Logo, voltaremos ao conteúdo exclusivo para os incríveis apoiadores. Que, aliás, ajudaram a viabilizar esta aventura na Califórnia!
Obrigado a todos. Até a próxima.
Eduf
Da sociedade líquida para a viscosa
Quero experimentar as indicações de música pra já, parece que vou gostar. Tá interessante acompanhar sua jornada por aí. Beijo