O tipo de entretenimento mais popular da atualidade
Muskorama: os dramas do bilionário Elon Musk.
Qual é o gênero de entretenimento mais popular da atualidade? Dorama, da Coréia? Nah, Muskorama – as aventuras de Elon Musk. Os EUA não iriam perder essa hegemonia tão facilmente.
Alguém deveria inventar um aplicativo pra medir quantas horas por dia as pessoas gastam com o bilionário. De repente, pode ser mais um item pro Apple Health.
Muskorama é um fenômeno cultural interessante. Em especial porque é híbrido. Ele mistura:
- Vários gêneros de storytelling. Drama empresarial, série jurídica, drogas, política, nerdismo tecnológico, imprensa de celebridades e humor.
- Várias mídias. TV, Internet, YouTube, rádio, podcasts. Musk se espalha usando diversos estilos de gerenciamento de atenção, com seus tempos particulares.
- Vários estilos de gamificação. O YouTuber que fala sobre Musk pra aumentar seus números na plataforma, o site que busca mais cliques, o analista que quer consolidar sua credibilidade num nicho, as pessoas que debatem nas redes sociais buscando seus diversos objetivos (conscientes e inconscientes), etc.
Muskorama é uma evolução do reality show. Mas é vendido como algo sério. Quer dizer, ao consumi-lo, debatemos um assunto importante, que tem repercussões pra democracia, pra vidas das pessoas, pra economia e pra geopolítica. Em tese, não seria "só" uma forma de entretenimento.
Muskorama é pra ser experimentado ao vivo. Suas histórias se desdobram ao longo do dia. Um refresh no browser e você está em uma nova toca de coelho, enfrentando "novos inimigos", outras fases do jogo.
Imagino que muita gente gostaria de ter uma câmera escondida seguindo o bilionário o tempo todo. O mais perto disso é ficar de olho na conta de Musk no X.
O consumo do Muskorama é ainda mais surpreendente. É um meme, que se multiplica em diversos universos midiáticos paralelos, em vários aplicativos, linguagens e contextos ideológicos. Atinge diferentes grupos etários e vários níveis educacionais.
Muskorama é a realização do sonho máximo do ego: provar que ele existe, que é percebido pelos outros e que permeia todas as áreas da existência.
E, claro, também seu maior pesadelo: a burocracia, o drama, a ocupação e o terror de ter que manter esse ego, expandi-lo, evitar que seja criticado, garantir que ele pareça perfeito e coerente.
Por estranho que pareça, isso gera emprego e riqueza (equipes de gerenciamento de crises, repórteres, etc.). Mas também causa despesas enormes.
Mas quanto custaria a obsessão com o Muskorama? Quanto tráfego na Internet se refere a esse assunto? Quanto tempo gastamos por dia? Enfim, quanto o aplicativo X custa pra sociedade? Esse é um assunto tão complexo que seria impossível fazer um cálculo preciso.
De qualquer forma, historiadores do futuro talvez definam o Muskorama como o fenômeno de mídia mais emblemático do século 21. O ápice da sociedade do entretenimento total –aquele que permeia todas as áreas da sociedade. Uma verdadeira linguagem planetária.
Os Sonhadores Parte 2
De vez em quando, publico uns exercícios aleatórios no meu site, Eduf.me. Foi o caso desse texto, que imagina uma sequência pro filme Os Sonhadores, clássico de Bernardo Bertolucci. Também andei comentando Dias Perfeitos, de Wim Wenders.