O fim da busca on-line

E se o Google nunca mais linkar pros sites independentes?

O fim da busca on-line
Busca? Que busca? A gente dá respostas.

Talvez você tenha visto que o Google pretende revolucionar seu sistema de busca, usando IA. A ideia é resolver os assuntos ali mesmo, sem enviar a pessoa pra sites externos. Parte da imprensa especializada já está em pânico. E com alguma razão.

Espero que criadores e desenvolvedores de sites apenas migrem pra outras plataformas com políticas mais alinhadas ao seu trabalho. Eu mesmo, já uso o Duck Duck Go desde a Pangeia.

Mas… e se as pessoas parassem, mesmo, de acessar sites? E se o Gemini, o ChatGPT e o Claude, realmente, se tornassem as interfaces hegemônicas da Internet? Pior: e se alguém desligasse a tomada da própria web? Como eu descobriria coisas interessantes?

Claro, esse experimento mental me levou a investigar como era a curadoria antes da proliferação da Internet. E a perceber:

  1. A importância da cidade, dos espaços físicos pra encontrar gente e ideias. Lugares minúsculos, improvisados, que somem do mapa antes de ficarem famosos. Zonas Autônomas Temporárias. Estabelecimentos pros quais você vai e que, de repente, mudam sua vida.
  2. O quanto revistas independentes fazem falta. Principalmente pelas suas limitações, pela escassez de espaço, por demorar pra sair e pelas escolhas editoriais idiossincráticas.
  3. A necessidade da introspecção, de não precisar buscar mais informações. A liberdade de não ser notificado ou interrompido pela publicidade.
  4. A importância da releitura e do reencontro com um mesmo produto cultural. Sem ansiedade de pular imediatamente pra outros.

Enfim. Você ainda consegue se imaginar sem Internet? Ou com menos Internet?

Espero que sim. Mas confesso que me deixei migrar demais pro universo digital. Não só no consumo de informação, mas, principalmente, nos ritmos, nos desejos e expectativas. Por mais que eu tenha uma vida off-line bastante intensa, é como se ela fosse apenas uma pausa na existência on-line.

Isso não faz o menor sentido. Não é possível que eu dependa tanto de um único conjunto de tecnologias.

Durante 25 anos (ou mais), as tecnologias apareciam de modo fragmentado na minha vida. Telefone, TV, elevador, copiadora, carro, etc., etc. Eu as usava e as desligava. Agora é como se vivesse num bloco único, num fluxo de conectividade incessante.

Pelo jeito, já posso ser considerado um transhumano. A vantagem é que essa prótese de informação circulando pelos cabos submarinos do planeta, deixou claro que somos mais ou menos como Cordyceps: conectados mutualmente, com o cérebro cada vez mais possuído pela Internet.

É. Se o Google realmente puxar o tapete dos sites independentes, talvez valha a pena não buscar alternativas. Pelo menos, não só na Internet. Um dia, fomos capazes de viver sem ela. Por que não agora?


Porco na Encruzilhada

Ah, a hipocrisia. Outro dia ganhei um dia extra de folga. Em vez de ir pra praia ou algo assim, acabei usando parte do tempo pra gravar um novo episódio do MonoEstéreo. É sobre o livro de memórias de Werner Herzog e o filme novo de Khyentse Norbu, Pig At The Crossing. Pra vocês, assinantes, tem uma versão em vídeo.