Você se lembra da Death Star? Era uma arma desenvolvida pelo Império e que destruía planetas. Teve um papel central em toda a franquia Star Wars.

Pois bem, ela possuia uma fragilidade bem no seu âmago, coração, ou algo assim. Atingindo aquilo, os Rebeldes conseguiram acabar com a coisa toda, fugir antes da explosão e ainda comer uma pizza em Tatooine.

(Desculpe-me pelo spoiler.)

O que eu quero dizer é o seguinte: o bug na minha Death Star parece ser a dualidade mainstream versus underground. Acreditar nisso me fez perder muito dinheiro, terminar relacionamentos e, basicamente, definiu minha vida inteira.

(Teve a estupidez também, mas deixa isso pra lá.)

Peguei a praga na adolescência e, de lá pra cá, tenho a alimentado diariamente, com as melhores papinhas culturais que consegui encontrar. Venho servindo a Sinhá Dualidade com aquele misto de devoção, cringe e alegria dos personagens do Sítio do Pica-Pau Amarelo.

Quanto mais nicho, melhor. Quanto mais paixão por ele, mais único e autêntico eu me sentia. Eu podia falar numa gramática própria com meus pares, me sentir abraçado e nutrido no útero confortável do meu autoisolamento. E, como aquele sujeito do Chaves, olhava pros outros e bradava: “gentalha, gentalha!”

Mas, enfim, o foco aqui nem é o preconceito ou o maniqueísmo. É a formação do hábito: o de consumir cultura e comportamento ligado a nichos. Principalmente, ficar completamente obcecado e apaixonado por isso.

Nem acho que seja de todo ruim. Mas é a fragilidade da Death Star, entende? É fácil de penetrar ali e parar todo o sistema. Risco alto. Ocupação máxima.

Hoje, essa paixão de nicho (que, no passado, chamávamos de “tribalismo”) é, basicamente, a engrenagem por trás da cultura (e da política) do capitalismo tardio. É o mainstream, por assim dizer. Onde quer que você vá, alguém está querendo te transformar num radical de alguma coisa.

Isso implica em:

  1. Reafirmar seu nicho por meio do consumo de produtos e de tempo.
  2. Reafirmação via rituais midializados – hoje em dia, é preciso provar, nos ambientes digitais, que você pertence àquele underground (produzindo memes, sinalizando virtudes, etc.).
  3. Delimitar a fronteira da sua identidade – enquanto você ataca os outros, consolida seu missionarismo e seu sentimento de pertencimento. Acaba colocando mais camadas de proteção no seu nicho. Ou melhor: mais plástico bolha em torno das suas bolhas plásticas.

A lógica de nichos e undergrounds tem nos levado a adotar comportamentos um tanto ridículos. Tem nos acostumado a aceitar discursos cada vez mais fanáticos e achar graça em piadas autodestrutivas.

É quase como um lúpus cultural, uma doença autoimune, corroendo nossos anticorpos. Tanto senso crítico que anula o senso crítico.

Num momento em que a prática, o sentido e o valor dos nichos vai se degradando com tanta rapidez, parece ainda mais importante abrir o coração pra ideia de equanimidade.

Mas, definitivamente, esse tem que ser um assunto pra outro dia.

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Fediverso

Não frequento redes sociais, nem mesmo o fediverso. Mas, como uso o Ghost pra publicar a newsletter, ele gera um perfil automático, que pode ser seguido no Mastodon, Bluesky, essas coisas. Se te interessa, é só seguir aqui: @news@textosobretela.com

(Nota: ainda uso YouTube. Mais do que deveria.)

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Não me preocupo com o SORA 2

Coisa mais estranha: fiz um vídeo direto de uma cozinha na França, pra comentar o novo aplicativo da OpenAI, gerador de deepfakes voluntários, o SORA 2. (E, se os recursos permitirem, ainda esse ano, vai ter vídeo no Nepal.)

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Vai comprar (qualquer coisa) na Amazon? Use meu link patrocinado: eduf.me/amazon. Nada muda pra você e eu ganho uns trocados.

Meu ponto mais fraco

Acreditar em nichos e cultivá-los é o bug da minha Death Star