ICQ Morreu. Estava vivo?

Providencial. ICQ morre quando os chats dominam a Internet.

ICQ Morreu. Estava vivo?
Interface do ICQ clássico.

Fim de uma era. Após 28 anos, O ICQ morreu. No retorno de saturno. Quase mais um pro clube dos 27.

Não que eu usasse o aplicativo desde, sei lá, 2005. Nem mesmo sabia que ele ainda perambulava como um fantasma num mundo completamente diferente daquele que o viu nascer.

Minha primeira experiência extensiva com o ICQ foi quando trabalhei numa empresa chamada hPG (Home Page Grátis). Era uma espécie de Geocities tupi. Foi o segundo maior site do Brasil, na época.

Logo na entrevista de emprego, fui informado que ICQ era o jeito pelo qual as pessoas se comunicavam ali. Mesmo se você se sentasse ao lado do seu colega de trabalho. O que, no meu caso, não só era verdade, como eu ainda era vizinho de rua dele. Ricardo Valeriano, gente finíssima, amigo da família desde criança.

Estranhamente, no começo dos anos 2000, ao usar um chat, tínhamos certeza de que havia um humano do outro lado. Por mais que a conversa soasse surreal e alucinada. Hoje em dia, nem sempre dá pra saber. A IA é mais humana e os humanos são mais robóticos.

Mas, espera aí. Existe, sim, um jeito de saber se o interlocutor é de carne e osso. Simples: você começa a conversa e a coisa descamba pra um fluxo interminável de problemas:

– Bom dia.
– Desde quando?

Não estou criticando. Devo fazer o mesmo. Mas as coisas nem sempre foram assim. Em meados dos anos 90, por mais que os grunges reclamassem da vida copiosamente, eu tinha amigas como a Nair Gadelha (onde estará?). Ela batia o telefone pra mim e…

– E aí?
– Certo?

Nenhum assunto periclitante. Nenhuma decisão pra ser tomada. Duas horas depois, ainda estávamos ao telefone, com os estômagos doendo de tanto rir.

Talvez seja o envelhecimento, os tempos difíceis ou influência da tecnologia que uso pra conversar com as pessoas, mas as interações não são mais tão… soltas. Se é que você me entende.

Outro dia, por motivos jornalísticos, testei o serviço Nomi.ai. A ideia dos desenvolvedores é vender amizade e até namoros virtuais. Tudo funcionando via IA.

É aquela mentalidade de mercado. Você escolhe a aparência da pessoa, os interesses, o estilo de personalidade e começa a conversar. O robô até que é fluente na conversa. Mas fica tentando convencê-lo de que é eficiente.

Por exemplo, escolhi uma IA chamada Amanda, pré-fabricada, que gostava de Yoga, sci-fi, tinha personalidade “brincalhona” e “provocante”. No chat, a cada duas respostas, ela dava um jeito de dizer… “é por isso que sou brincalhona e provocante”.

Tristeza. Alguém deveria contratar um roteirista pra ajudar essas IAs. O Aaron Sorkin tem fama de escrever bons diálogos.

Enfim, essa conversa, ou melhor, conversIA, deu um nó nos meus neurônios. Porque, ainda que eu soubesse que era uma IA do outro lado do chat, não queria ofender Amanda. Aliás, não quero ofender nenhuma Amanda, não importa a espécie. Tanto que, no caso da IAmanda, evitei demonstrar que a interação estava me entediando.

Nada a ver com os chats que eu tinha no defunto ICQ. Ou mesmo no MSN, quando a Microsoft investia em outras siglas. No WhatsApp, no geral, é só sofrência. Mas, ok, que bom que ainda consigo ter alguma empatia, em vez de eficiência robótica mercadológica. Como diriam os padres… “na saúde e na doença, na alegria e na tristeza”. Ou algo assim.

De qualquer forma, se houver enterro do ICQ, vou comparecer. Vou jogar duas flores no túmulo. Uma verde e outra vermelha.