Diário de um eleitor

Trem da CPTM, na periferia de São Paulo.
São Paulo, 02 de outubro de 2022, 8 da manhã.
//Plim.//
Aqui estou mais um dia, sob o olhar entediado do vigia.
//Plim.//
Diferentemente do clássico dos Racionais MC’s, o guarda era apenas o da CPTM. Eu partia de Jundiaí para votar em Pirituba – bairro do noroeste de SP onde cresci e vivi por 28 anos.
Apesar de morar há 15 na Serra Gaúcha, nunca transferi minha zona eleitoral. Alguma parte de mim não aceita romper o vínculo com a periferia de SP.
No trem, meu narrador compulsivo interno queria transformar a votação num road movie. Ou melhor: rail movie. Mais uma vez eu teria de escorrer pelas veias ferroviárias abertas daquele pedaço de América Latina.
Novamente observaria a velha dinâmica entre homem e natureza. O mato tentando retomar o espaço roubado pela CPTM. As árvores abraçando os cabos de eletricidade. Fungos criando padrões no concreto. Mais um pedaço de plataforma corroída pelo tempo.
A dinâmica humana também surge nas incoerências de arquitet…
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