Palavras do filósofo do deserto, Josh Homme:

"Nada é melhor do que voltar pra casa, nada é melhor do que deixá-la. Essa é uma maldição abençoada".

Homme é o líder do Queens of the Stone Age, banda de rock conhecida por fazer longas e exaustivas turnês pelo mundo. O guitarrista soltou o aforismo acima numa conversa com outro viajante calejado, o escritor e apresentador de TV Anthony Bordain.

Fiquei com a frase na cabeça, desde que assisti ao documentário Roadrunner, sobre Bourdain. Não que ela seja particularmente genial ou que se aplique a mim completamente.

Até venho viajando com frequência e vivendo em outros países. Só que não tenho propriamente uma casa pra voltar. Nem sinto muita necessidade de ter. Na verdade, agora, um armário seria mais útil. Mas entendo o apelo de acreditar que exista uma situação segura e imutável pra retornar ocasionalmente.

Na verdade, a tese de Homme me interessa por outro motivo: me lembra de que, se estamos (praticamente sempre) insatisfeitos, a variedade pode trazer algum alívio. Momentâneo, claro. Mas já ajuda demais.

Porém, o equilíbrio, aqui, é sutil e dinâmico. Tudo depende da dosagem. Mudança demais assusta, de menos, entedia. Traz ansiedade e expectativas que são prazerosas e estimulantes. Mas é só passar um milímetro da medida e a variedade vira pesadelo.

Ao escrever isso, tenho vontade de rir do poder e da fragilidade da mente. Pelo menos da minha. Sempre dançando na porta do paraíso e na beira do precipício.

Amamos variedades. Mas quando (achamos que) as escolhemos. Odiamos quando (parecem) impostas. Mas nem sempre é fácil garantir quem decide o quê. São múltiplas cadeias de causas e consequências que nos impulsionam. Podemos agir como escravos voluntários, pensando que somos livres.

Ainda assim, mesmo sem saber de onde a pancada vem, precisamos de dinâmica. Temos que desejar a grama do vizinho e possuí-la. Mas só por um tempo. Se ela vira nossa propriedade, se transforma em trabalho, em irrigação, em jardinagem. E, então, preferimos delegar o serviço.

Não é todo mundo que tem estômago pra variedade. Não é todo mundo que tem estômago pra rotina. A maioria se vira no meio-termo. Ou na imaginação: se está na mesmice sonha com mudanças, se está no caos, quer se organizar.

A variedade é um micro-alívio. É o que eu chamo de "obsbenção": pode ser obstáculo, benção, ou os dois ao mesmo. É mais ou menos a mesma ideia de Josh Homme: maldição abençoada. Um pouco de água no meio de uma maratona.

Voltar, mudar, ficar. De alguma forma, a mente comum tem que se movimentar e espernear. Paciência. Não é preciso fugir. Já ajuda saber que podemos contar com esse alívio temporário: a variedade. Refrescar as atividades. Começar de novo, a partir de outro ângulo.

Devo ir ou ficar?

Essa The Clash não pensou: posso variar apenas um pouco.