4 mitos da velha web 2.0

4 mitos da velha web 2.0

Muita gente reclama que a Internet está cada vez mais negativa, que não consegue encontrar nada de “diferente” nela, que estamos condenados a acompanhar os mesmos assuntos, nas mesmas plataformas.

Mas é só procurar um pouco e você encontrará uma quantidade absurda de experimentos, de conteúdo voltado para nichos, de aplicativos alternativos e de propostas editoriais destoantes das bolhas extremistas que dominam parte da web.

Onde buscar essas coisas? Como sair da repetição compulsiva do consumo de informação?

Para responder a essas questões, não basta buscar o próximo hype da curadoria ou a próxima tecnologia disruptiva. É preciso investigar os 4 mitos fundadores da web 2.0, das redes sociais e da distribuição industrial, algorítmica, das Big Tech.

Vamos lá. Publicar conteúdo usando aplicativos como Facebook, Tiktok, YouTube, Instagram, Twitter etc é…

1. Conveniente

Só se você ignora anúncios, formatações rígidas, limites de caracteres, “clique no sininho”, conteúdo censurado por erros algorítmicos, ou ambientes tóxicos e otimizados para conflitos.

2. Barato

Não existe hospedagem gratuita. Existe externalização de custos.

Os usuários pagam com seus dados, expondo seu público a práticas viciantes promovidas por empresas de tecnologia que vivem sendo acusadas de estar envolvidas em monopólios, sonegação de impostos, financiamento de campanhas políticas, lobbies etc.

Ou seja: o que você economiza com hospedagem, acaba pagando em impostos ou tendo que lidar com outros problemas na sociedade.

3. Melhor para encontrar “seu” público

Raramente alguém consegue criar algo pessoal e alternativo nesses ambientes. É bem mais comum que o criador tenha que gastar tempo se adaptando a listas de “best practices” para domar algoritmos e políticas institucionais.

De modo geral, o criador luta para não ser prejudicado pela plataforma. E não é particularmente ajudado por ela. Ou seja: você não encontra “seu” público, você é que se transforma em outro criador.

4. Melhor para criar uma comunidade

O que, afinal, é uma comunidade? Números crescentes de seguidores? A sensação de que se está vencendo num jogo de crescimento, atingindo métricas estatísticas aleatórias?

Além dos robôs, que inflam os números em redes sociais, os ambientes algorítmicos também facilitam o surgimento dos “robôs humanos”. Quer dizer, os seguidores passivos, que nunca interagem, que nem mesmo lêem seu conteúdo – apenas colecionam notificações.

Em vez de comunidades, o que se cria aqui são custos para o planeta: dados circulando em servidores que consomem eletricidade e jogam carbono na atmosfera. No limite, isso ajuda a destruir outros tipos de comunidades, literalmente mais orgânicas.

Sem falar nos seguidores que apenas escaneiam títulos e compartilham ou criticam ideias antes mesmo de conhecê-las. Tudo isso é custo: de tempo, de energia, de saúde mental.

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“Eu te odeio mas eu não te largo”.

Tirando a solidez

Quando percebemos que a web 2.0 não é tão sólida, inevitável e necessária, podemos começar a buscar comportamentos alternativos, novas rotinas de produção, compartilhamento e consumo. Mas isso é assunto para os próximos textos.

Primeiro, podemos começar um movimento de transição, usando as redes sociais para um fim bastante específico: divulgar conteúdo que publicamos originalmente em nossos próprios sites.

Há pouco tempo, Elon Musk disse que queria excluir os robôs do Twitter. De que adiantaria, se os humanos continuassem a agir como robôs dentro da plataforma? Talvez, seja preciso fazer o exato contrário: deixar os robôs povoarem as redes sociais. Mas robôs que nós mesmos controlamos, a partir dos nossos sites.


Bonus: princípios da IndieWeb (em Inglês).

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